segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Tony Tcheka lança livro “Os media na Guiné-Bissau”



Bissau,30 Nov 15-(ANG) - O escritor guineense António Soares Lopes vulgo Tony Tcheka lançou na passada sexta-feira em Bissau, o seu livro intitulado “Os média na Guiné-Bissau”.

Em declarações á Imprensa, após o lançamento da obra, o autor explicou que o trabalho foi  escrito entre o mês de  Março de 2012 e Março 2013, mas o golpe de Estado de 12 de Abril de 2012 e outros constrangimentos travaram a sua publicação.    

No livro Tony Tcheka revelou que os meios de Comunicação Social não deviam “depender de grupos económicos ou políticos” para suprir necessidades tão básicas como aquisição de combustível e manutenção de equipamentos.

Adiantou que, o cenário de dependência é recorrente e condiciona o trabalho dos jornalistas.

O escritor defendeu que as Rádios, Televisões, Jornais  e outros meios deviam, por exemplo, unir-se na hora de fazer aquisições ou requisicao de serviços.

“Falta de formação de base dos Profissionais da Comunicação Social, ausência de regulação da profissão e do sector e um mercado pouco convidativo sao algums desafios com que confrontam os medias guineenses”, disse.

Por sua vez, o ministro da Comunicação Social que presidiu o acto, disse que  tomou em considerações muitas notas das  recomendações do livro, tendo apelado o apoio financeiro continuo do Programa da  União Europeia ao estudo. 

Agnelo Regalla disse que o estudo defende a consagração de uma verba no Orçamento Geral do Estado como forma de poder desenvolver os órgãos da comunicação social, desde que seja vista pelo Governo como um parceiro de desenvolvimento da democracia no país.   

Adiantou que, a comunicação social tem dado provas de capacidade de mobilização das comunidades, que a obra ilustra como históricas.

Para Miguel de Barros, sociólogo e  dirigente associativo que apresentou a obra criticou os orgaos de informacao guineenses, dizendo que os Manchetes dos jornais trazem erros graves em português e que nas emissões das rádios ninguém se percebe se as línguas que falam é português ou crioulo.

Barros explicou ainda que o estudo e o  Livro foi financiado pela União Europeia UE em colaboração  com o Programa de Apoio aos Actores Não Estatais.

O livro contém 180 páginas e foram produzidos mais de 500 exemplares da mesma.

 FONTE: ANG

Governo inaugura sala de registo na Maternidade de Hospital Simão Mendes



Bissau, 30 Nov 15 (ANG) - O Governo em colaboração com o Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF), inaugurou sexta-feira, uma sala de registo civil de nascimento na Maternidade do Hospital Nacional Simão Mendes.

Esta iniciativa enquadra-se no âmbito da parceria existente entre os Ministérios da Justiça e da Saúde e visa reforçar o sistema de registo civil de nascimento das crianças no país. 

"Essa, portanto, é a primeira estrutura de registo civil de nascimento, nos centros hospitalares, com o objectivo de estabelecer mecanismos de cooperação para a implementação do Plano Nacional de Registo Civil", escreve um comunicado do governo entregue a imprensa.

As duas entidades assumiram o compromisso de criar condições necessárias para a mobilização e orientação das populações em relação à importância do registo civil de nascimento.

A convenção visa também a erradicação do sub-registo e ao mesmo tempo ampliar a cobertura da rede de serviços de Registo Civil de Nascimento através das unidades sanitárias do Ministério da Saúde Pública, a nível nacional.

O documento afirma que o governo pretende continuar a priorizar o sector do registo civil de nascimento, de forma a garantir que a taxa de registo de crianças nascidas no país, ainda muito baixa (24%), possa aumentar nos próximos anos. 

Para tal, esta parceria entre o sector da saúde e da justiça irá dar prioridade à criação de unidades de registo de nascimento, nos centros hospitalares, especialmente nos serviços de vacinação. 

O comunicado sublinha ainda que nos próximos meses, serão abertos mais serviços, nomeadamente no hospital de Cumura e no Centro materno-infantil de Bissau.

O registo de nascimento dá a criança uma existência oficial em relação ao Estado. O Artigo 7º da Convenção sobre os Direitos da Criança, especifica que toda criança tem o direito de ser registada ao nascer, sem qualquer discriminação. Sendo esse, portanto, um dos primeiros direitos que o ser humano tem ao nascer.

"Registar o nascimento de uma criança é um passo crítico em direcção à sua protecção, pois estabelece a existência da criança ao abrigo da lei, fornecendo a base para salvaguardar muitos dos direitos económicos, civis, políticos, sociais e culturais", explica.

O Registo de nascimento gratuito e universal é um instrumento poderoso para assegurar a igualdade de acesso a serviços como saúde e educação. Saber a idade de uma criança também é fundamental para protege-las do trabalho infantil, recrutamento forçado para as forças armadas, casamento infantil e tráfico humano.

O registo civil constitui um dos direitos fundamentais dos povos, pois representa o fundamento da cidadania e da nacionalidade, os quais estão sendo continuamente negados à maioria da população guineense.

Registar mulheres e crianças, é uma condição primordial para permitir-lhes acesso aos serviços básicos na sociedade.

 Fonte: ANG/Lusa

Ministério da Saúde e UNFPA assinam acordo sobre construção de infra-estruturas sanitárias no sul da Guiné-Bissau





Secretário de Estado da Gestão Hospitalar da Guiné-Bissau, Dr. Martilene Fernandes dos Santos e a representante do Fundo das Nações Unidas para a População (FUNUAP), Drª. Kourtoum Nacro rubricaram hoje(antes-de-ontem), quinta-feira (26 de Novembro), em Bissau, um Processo Verbal para a implementação de vários projectos de construção e reabilitação das infraestruturas hospitalares nas regiões de Quinará e Tombali.

Segundo reza o acordo, as partes se comprometem: a “Construir um Bloco Operatório para a Maternidade do Centro de Saúde de Buba; Reabilitação do Centro de Saúde e Residência de pessoal de saúde de Gã-Pará; Construção da Casa de Mães de Catió e Construção da Casa de Mães de Buba”.

O FUNUAP considerou ainda a finalização do Bloco Operatório de Bubaque, mas para que tal obra possa ser realizada, a propriedade do edifício e terreno em que este se encontra tem de ser clarificada, podendo o FUNUAP avançar com a finalização da obra caso se trate de uma propriedade do Estado da Guiné-Bissau.

O Secretário de Estado da Gestão Hospitalar, Martilene dos Santos manifestou-se satisfeito com estas iniciativas, tendo assumido o compromisso de tudo fazer para que os recursos financeiros destinados às iniciativas descritas no acordo sejam rigorosamente utilizados para os fins destinados.

Martilene dos Santos afirmou ainda não poupar esforços em combater “tendências ou comportamentos” que possam pôr em causa tais propósitos, bem como zelar pelo cumprimento “escrupuloso” dos prazos para as obras.

O acordo refere também que as partes comprometeram-se a observar as disposições internas e internacionais para a organização de concurso público aberto e garantir os princípios da transparência durante todo o processo do concurso e de execução das obras”.

O acto de assinatura deste acordo que resulta duma análise profunda do estado da cooperação entre as duas instituições sobre as questões mais prementes da Saúde Pública na Guiné-Bissau, teve lugar hoje a margem do atelier de validação do Plano de Acção do Programa do País (2016-2020 - Programa de Cooperação entre o Governo e o FUNUAP).

Por: Assessor de Imprensa
(Sec. Est. Gest. Hospt/MINSP)

Belolat Manuel Gô

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Presidente Guineense volta a aludir a casos de corrupção

O presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz.

A Assembleia Nacional Popular encetou hoje uma nova secção parlamentar, ocasião durante a qual o Presidente José Mário Vaz voltou a referir-se a "sinais de corrupção no país" sobretudo por parte de dirigentes do Estado, tema já invocado quando José Mário Vaz demitiu no passado mês de Agosto o governo liderado por Domingos Simões Pereira.

De acordo com vários relatórios internacionais, a Guiné-Bissau figura entre os países onde a corrupção assume contornos preocupante. Apontando o dedo a membros do antigo governo sem contudo citar nomes, o Presidente referiu que as suas anteriores chamadas de atenção não foram levadas em consideração.

Nesta nova sessão parlamentar que decorre até ao dia 8 de Janeiro deveria precisamente ser analisado, entre outros assuntos, o relatório da comissão de inquérito às denúncias de corrupção feitas pelo presidente da Guiné-Bissau. Uma fonte desta comissão avançou desde já à agência Lusa que até ao momento não foi possível obter por parte do Chefe de Estado elementos confirmando as suas acusações. 
Fonte: RFI
Mais pormenores com Mussa Baldé.

Excluídos do PAIGC contestam decisão


Interior da sede do PAIGC em Bissau

As reacções não se fizeram esperar após a expulsão de Baciro Djá e a suspensão de três outros dirigentes pelo PAIGC. Estes prometem recorrer da decisão. Em causa estão figuras do antigo governo efémero que fora contestado pela liderança do partido no poder na Guiné-Bissau

O governo efémero de Baciro Djá, empossado pelo chefe de Estado, José Mário Vaz, à revelia da liderança do PAIGC, do ex primeiro-ministro Domingos Simões Pereira, continua na berlinda na Guiné-Bissau.
Baciro Djá, terceiro vice-presidente da histórica formação guineense, foi expulso por decisão do Conselho de jurisdição enquanto os dirigentes Rui Diã de Sousa, Respício Silva e Aristides Ocante da Silva foram suspensos por quatro anos.
Em causa está o alegado desrespeito dos quatro responsáveis dos estatutos do partido ao assumirem cargos ministeriais num governo não reconhecido pelo partido.
O presidente José Mário Vaz optara por demitir a 12 de Agosto o governo de Domingos Simões Pereira alegando haver problemas de relacionamento com o mesmo e denunciando actos de corrupção por parte do mesmo.
O chefe de Estado guineense que dera posse em seguida a Baciro Djá como primeiro-ministro em virtude do seu cargo de terceiro vice-presidente do PAIGC, partido vencedor das últimas eleições legislativas.
O Supremo Tribunal de Justiça acabou por declarar inconstitucional tal nomeação tendo o governo acabado por cair.
Só depois de árduas negociações é que Carlos Correia acabou por assumir a chefia de novo executivo.
Porém com esta decisão do Conselho de jurisdição o PAIGC pune os dirigentes que protagonizaram este episódio.
Facto que os dirigentes em causa contestam. É o caso de Aristides Ocante da Silva, que fora nomeado na altura para ministro da presidência do Conselho de ministros.
Ele denuncia uma medida que pode levar o partido para o abismo, mas descarta que este seja um novo episódio da querela entre o presidente da república, oriundo das fileiras do PAIGC, e o actual líder do partido, o seu ex primeiro-ministro.

http://www.portugues.rfi.fr/aef_player_popup/rfi_player#
 Fonte: RFI

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Guiné-Bissau marcou presença na IIª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito

O Secretário de Estado da Gestão Hospitalar, Martilene dos Santos encontra-se no Brasil em representação do governo da Guiné-Bissau na IIª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, que decorreu entre os dias 18 a 19 (hoje) de novembro em Brasília. 

O evento foi presidida na abertura pela Presidenta Dilma Rousseff que falou sobre o saldo negativo gerado pelos acidentes de trânsito e os benefícios obtidos ao combater esse problema. “Os prejuízos em acidentes de trânsito consomem o equivalente a 3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, chegando a 5% nos países em desenvolvimento”, destacou.
 
A presidenta destacou que as altas cifras em dinheiro não contabilizam o sofrimento incalculável de milhares de famílias provocado pela perda de entes queridos e por sequelas de acidentes graves. “Investir em trânsito certamente traz benefícios econômicos, mas realmente [esses benefícios econômicos] são secundários em relação à preservação de vidas humanas e à qualidade de vida”, ressaltou a presidenta.
  
A cerimonia de abertura contou também com a presença da directora-geral da Organização Mundial da Saúde Elizabeth Chan que frisou na sua intervenção que “o objectivo é de avaliar o andamento das iniciativas para redução das mortes e lesões ocorridas no trânsito em todo o mundo.”

Durante a Conferência, foram feitos os balanço das iniciativas nacionais, regionais e internacionais adoptadas até o momento, apontando caminhos para avançar rumo às metas previstas no Plano Global para a Década de Acção. Debateu-se também o tratamento do tema na Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, que terá sido aprovada até então.
 
À Conferência Global contou com cerca 2100 conferencistas, entre 130 delegações que se fizeram representar, incluindo ministros responsáveis pelo tema em cada país, como os das pastas de Saúde e Transportes, organizações internacionais, representantes da sociedade civil e do sector privado.
Esq. Ministro da Saúde de Angola José Van-Dúnen e SEGH Martilene dos Santos
A Iª Conferência de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito aconteceu em Moscovo, em 2009, e como resultado a Assembléia Geral adotou uma resolução que declarou o período 2011-2020 "Década de Acção para a Segurança no Trânsito".

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Boa Interpretação da CRP pelo Dr. Paulo Portas


Num debate televisivo na SIC, Dr. Paulo Portas, tentou dar uma aula de Direito Constitucional ao Dr. Passos Coelho Líder do PSD, agora Primeiro Ministro Demissionário, .o que estava em causa nessa aula era a interpretação oportunistas de Dr. Paulo Portas sobre a Constituição da República Portuguesa (Maioria Parlamentar).

Hoje essa interpretação sobre a maioria parlamentar já é impraticável e revogável, porque o Partido do Sr. Dr. Paulo Portas não entra nessa maioria parlamentar, que ontem derrubou a coligação Portugal à Frente, no parlamento através de uma moção de rejeição que obteve 123 votos a favor contra 107 votos contra, essa maioria não é uma maioria, porque não é uma maioria com os partidos de centro o contrário seria sim uma maioria clara e inequívoco.

Este Sr. no meu entender nunca estou Direito, andou sim a fazer turismo jurídico na Universidade Católica de Lisboa, também não é um político mas sim um bailarino profissional e prostituto políticos que vai com todas(os).


Dr. Paulo Portas Sr. (irrevogável) o Bailarino Profissional e Prostituto Político.


Por. Alberto Silva 

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Comparar o incomparável I Abordagem




Atual situação política Portuguesa (a rejeição do programa do Governo do Dr. Pedro Passos Coelho, pelos os partidos PS. BE. PCP e PEV ) neste momento estamos perante uma onda incalculável de especuladores em comparar esta situação a eventual não aprovação do programa de Governo Guineense liderado pelo Eng.º Carlos Correia.
Depois das eleições legislativas que decorreram no dia 04 de outubro do ano corrente, a coligação saiu vencedora, mas sem maioria absoluta (Maioria Parlamentar), face esse resultado Sr. Presidente da República Prof. Doutor. Aníbal Cavaco Silva indigitou Dr. Passos Coelho para ocupar o cargo de Primeiro Ministro de Portugal, representando sempre a possibilidade deste Governo não ter o apoio Parlamentar mas respeitando sempre a tradição constitucional de 40 anos de Democracia nomeando o Primeiro Ministro sendo ele lidar da coligação Portugal à Frente que venceu as eleições legislativas, mediante o resultado eleitoral.
 Hoje os partidos com assento Parlamentar estão a discutir o programa do Governo, como é de conhecimento de todos, a rejeição do programa do Governo vai ser  apresentada pelos os 4 partidos no Parlamento pelos partidos que previamente  acordaram que vão sustentabilizar  as linhas programáticas dos partidos partes no acordo, (não estamos a falar de Deputados, pessoas).
No caso da nossa Terra Mãe a nossa Pátria Amada, Temos um partido que venceu as ultimas eleições Legislativas com maiorias absoluta dos deputados no Parlamento Guineense que é o PAIGC, com 57 Deputados depois de seguido o partido líder da oposição PRS com 41 Deputados e 2 Deputados para PCD, 1 Deputado para UM  e 1 Deputado para PND.
É de conhecimento público os ensaios falhados pelo sua Excelência Sr. Presidente da República Dr. José Mário Vaz, na tentativa de nomear um Primeiro Ministro da sua inteira confiança (PM de iniciativa Presidencial), essa tentativa ficou afastada pelo Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, que vem alucinar sua Excelência Sr. Presidente da República Dr. José Mário Vaz  dos seus poderes constitucionais e respeitando os princípios básicos do Estado de Direito Democrático, principalmente o princípio de Separação de Poder, em três poderes fundamentais, Executivo, Legislativo e Judicial.
Depois deste enquadramento, afirmo em rejeitar categoricamente a comparação da situação da nossa Pátria Amada com a situação Portuguesa,
Na Guiné-Bissau temos um Governo suportado por um partido com maioria absoluta no parlamento Guineense, mas mesmo assim, ainda convidou alguns partidos com assento parlamentar para o Governo (PCD,UM,), estamos a referir partidos políticos não a Deputados, porque estes acordos para sustentabilidade do Governo através do Parlamento devem ser entre os Partidos Políticos representados no parlamento pelos seus grupos parlamentares, por isso é que, são acordos partidários e não de pessoas ou deputados que vão celebrando acordos extra-parlamentar, com objecto de causar uma instabilidade parlamentar, para dar origem a uma crise institucional mais profunda que provoca a queda do Governo vencedora das eleições com maioria absoluta. 
Contrário do caso Português, o atual Governo perdeu a maioria parlamentar nas últimas eleições, neste caso a maior parlamente ficou na oposição, essa oposição vem através de um acordo assinado entre os partidos não entre deputados, apresentar uma moção de  rejeição do programa de Governo, que reprova de uma forma clara e inequívoco o programa do Governo que por sua vez obriga a sua queda.
Vamos continuar na próxima abordagem.

O pensador Guineense  

sábado, 7 de novembro de 2015

Frente a frente entre embaixador angolano e Eduardo Agualusa

http://www.rtp.pt/noticias/mundo/frente-a-frente-entre-embaixador-angolano-e-eduardo-agualusa_v871619


O embaixador itinerante de Angola, António Luvualu de Carvalho, esteve na 3 num frente a frente com o escritor José Eduardo Agualusa, com o caso de Luaty Beirão e das recentes detenções em pano de fundo.

No programa 360, Luvualu de Carvalho acusou o Grupo dos 15 de terem como objectivo acções violentas para desestabilizar "a democracia angolana".

Eduardo Agualusa defendeu, por seu lado, que o Presidente José Eduardo dos Santos está ainda a tempo de compreender o que se está a passar em Angola e de reiniciar um verdadeiro processo democrático no país.

Fonte: RTP 3

Ex-agente duplo conta como a CIA promove ‘guerras não violentas’ para implodir governos (Quem está a ser o Alvo neste momento???)

A missão de Raúl Capote era formar líderes universitários e criar o projeto “Genesis”, com o objetivo de estabelecer em Cuba a estratégia do “golpe suave”, elaborada por autores como Gene Sharp. ( Foto: Guilherme Santos/Sul21)
A missão da CIA para Raúl Capote era formar líderes universitários e criar o projeto “Genesis”, com o objetivo de estabelecer em Cuba a estratégia do “golpe suave”, elaborada por autores como Gene Sharp. ( Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Marco Weissheimer
Entre 2004 e 2011, o escritor e professor cubano Raúl Antonio Capote Fernández atuou, a pedido da inteligência cubana, como agente duplo infiltrado na CIA. Raúl Capote foi contatado muito jovem por pessoas ligadas à agência de inteligência norte-americana e convidado a participar de um projeto que pretendia criar uma “oposição de novo tipo” em Cuba, capaz de, após o desaparecimento de Fidel Castro, iniciar uma “revolução suave” que acabasse por derrubar o governo de Havana. A sua missão era formar líderes universitários e criar o projeto “Genesis”, com o objetivo de estabelecer em Cuba a estratégia do “golpe suave”, elaborada por autores como Gene Sharp.
Em entrevista ao Sul21, Raúl Capote conta essa experiência, relata como ela fracassou em Cuba e diz que ela já foi aplicada em países como Venezuela, Irã e Líbia e que segue sendo implementada em diversas regiões do mundo. “A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda. O objetivo não é fazer com que um governo renuncie. Se isso acontecer, o projeto fracassou. A ideia é que o governo imploda e que isso cause caos. Com o país em caos, é possível recorrer a meios mais extremos”, assinala.
Raúl Capote veio a Porto Alegre a convite da Associação Cultural José Martí/RS para participar de uma série de encontros e debates. Ele mantém o blog El Adversário Cubano, onde conta outros detalhes sobre essa história e sobre outras “guerras não violentas” em curso no planeta.
Sul21Como é que você começou a trabalhar com assuntos de segurança em Cuba e sob que circunstâncias se tornou um agente duplo, atuando infiltrado na CIA?
Raúl Capote: Isso começou em 1986. Eu era um jovem inquieto e rebelde que fazia parte de uma organização chamada Associação Hermanos Saiz, que agrupava jovens poetas, pintores e escritores. Esse espírito rebelde para nós era algo muito natural. Fomos ensinados a ser assim. Creio que os serviços especiais norte-americanos confundiram esse espírito de rebeldia com um espírito de possível oposição ao sistema. Eles começaram a se aproximar de nós. Eu vivia em Cienfuegos, no centro-sul de Cuba, uma cidade que tinha uma importância estratégica nesta época porque a revolução queria convertê-la num centro industrial para o país. Havia muitas obras em construção, entre elas uma central Eletronuclear e fábricas de todo tipo. Era uma cidade muito jovem e onde trabalhavam muitos cubanos que tinham se formado na União Soviética e em outros países do campo socialista. Creio que essa conjuntura de ser uma cidade jovem e industrial, com muitos jovens interessados em temas da cultura, da política e da economia, chamou a atenção da CIA.
"A primeira pessoa que veio falar conosco foi Denis Reichler, um jornalista freelancer da revista Paris Match, que para nós era uma espécie de ídolo do jornalismo esportivo". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“A primeira pessoa que veio falar conosco foi Denis Reichler, um jornalista freelancer da revista Paris Match, que para nós era uma espécie de ídolo do jornalismo esportivo”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Eles começaram a se aproximar de nós por meio de organizações não-governamentais. A primeira pessoa que veio falar conosco foi Denis Reichler, um jornalista freelancer da revista Paris Match, que para nós era uma espécie de ídolo do jornalismo esportivo. O que admirávamos nele era sua atuação como jornalista que havia estado na África e em muitos outros lugares. Era uma referência positiva para se aproximar de um grupo de jovens tão rebelde. Ele nos colocou em contato com organizações não-governamentais que, supostamente, estavam interessadas em financiar projetos artísticos em Cuba. Nos colocou em contato com pessoas que começaram a planejar ajuda econômica e a trabalhar conosco, em um processo de aproximação que buscava ganhar a nossa confiança. Éramos jovens e estávamos começando a fazer literatura ou artes plásticas. Ainda não tínhamos nenhuma obra, só tentativas.
Era um processo de aproximação feito com muita cautela e sem pressa. Neste período, a Segurança de Estado cubana entrou em contato comigo, me explicou o que estava acontecendo, que aquelas pessoas não pertenciam, de fato, a organizações não governamentais e quais eram as suas reais intenções. Isso me dava três possibilidades. A primeira era seguir trabalhando com eles. A segunda era interromper o trabalho e o contato com eles. E a terceira possibilidade, que me foi proposta pela segurança cubana, era seguir trabalhando com eles, converter-me em um agente da segurança cubana e tratar de decifrar quais eram os planos dessas pessoas no mundo da cultura e das artes, especialmente junto à juventude.
Sul21Esse contato com a agência de segurança cubana e o trabalho que se seguiu daí aconteceram ainda em 1986?
Raúl Capote: Sim, em 1986. Para mim era algo extraordinário. Nos anos 80, existia na sociedade cubana toda uma mística sobre o trabalho da segurança cubana, que sempre foi muito popular. Havia uma história legendária sobre ela, que tinha frustrado planos da CIA contra Cuba. Pertencer a essa organização me pareceu algo maravilhoso. Não avaliava, então, o quão complicado seria o trabalho que eu teria que enfrentar nem a quantidade de renúncias que eu teria que fazer. Eu tinha 20 anos quando comecei esse trabalho. Foi um longo processo. Houve um momento em que ocorreu uma interrupção desse movimento de aproximação feito pelos inimigos de Cuba. Em 1987, houve uma grande denúncia pública. Mais de 30 agentes da segurança cubana expuseram o trabalho de quase 96 oficiais da CIA que estavam atuando dentro do país.
"Em 2004 começou o processo do meu recrutamento pela CIA. Neste ano, conheci muitos oficiais da agência, inclusive aquele que seria meu chefe mais tarde". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Em 2004 começou o processo do meu recrutamento pela CIA. Neste ano, conheci muitos oficiais da agência, inclusive aquele que seria meu chefe mais tarde”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Isso fez com que a CIA se tornasse mais cautelosa e tomasse algumas precauções. Passaram-se então alguns anos de contato muito leve por meio de algum jornalista ou de um representante de uma ong. Em 1994 eu fui morar em Havana e passei a trabalhar como organizador do sindicato de trabalhadores da cultura na cidade. Era uma mudança radical em muitos sentidos. Até então eu trabalhava com um universo de 3 ou 4 mil jovens e passei a dirigir 40 mil trabalhadores da cultura. Isso me tornou um alvo ainda mais interessante para a CIA. Eu era líder de um sindicato onde estavam praticamente todos os trabalhadores da cultura – artistas, músicos, escritores. Era um sindicato muito forte. Aí os contatos voltaram.
Eles passaram a me visitar com um plano mais complicado. Começaram a falar em dar informações sobre como se movia esse mundo da cultura, sobre como os jovens viam a Revolução naquele momento, etc. Esse processo vai se incrementando com o passar dos anos até 2004. Neste período, entramos em contato com associações e fundações mais vinculadas com o governo dos Estados Unidos como a Usaid e a Fundação Panamericana para o Desenvolvimento. Em 2004 começou então o processo do meu recrutamento pela CIA. Neste ano, conheci muitos oficiais da agência, inclusive aquele que seria meu chefe mais tarde.
Sul21Conheceu esses oficiais da CIA em Cuba mesmo?
Raúl Capote: Sim, em Cuba. Em 2004, então, eles me recrutam e eu me converto em um agente da CIA com uma tarefa muito específica. Minha tarefa não era fazer espionagem, até porque eu não tinha acesso mesmo a informações muito importantes, ou praticar ações encobertas ou atos terroristas, como normalmente faziam em Cuba. O meu trabalho era promover a guerra cultural, a guerra no terreno das ideias, que eles definem muito bem ao chamar de guerra cultural. Nós usamos expressões complicadas para isso como subversão político-ideológica ou algo do gênero. Eles simplificam. É guerra cultural mesmo. O que eu não imaginava era chegar a conhecer o quanto de verdade havia no controle real que a CIA tem sobre os meios de comunicação e a indústria cultural nos Estados Unidos e no mundo inteiro. Descobri que isso existe de fato, não é teoria da conspiração como alguns acreditam.
A CIA utiliza o cinema, as rádios, as televisões os jornais e outros canais a partir de um plano prévio. A agência criou um departamento que se especializou neste tipo de guerra cultural. Eu entrei neste mundo e conheci muitas pessoas que trabalhavam nele. Em 2005, eu me converti em chefe de um projeto específico da CIA em Cuba, chamado de Projeto Gênesis.
Sul21Você chegou a ir aos Estados Unidos para fazer algum tipo de treinamento especial ou para reuniões?
Raúl Capote: Sim, tive contato direto com eles. O Gênesis era um projeto muito bem pensado e que me permitiu conhecer também como a CIA estava trabalhando na América Latina com a mesma ideia de guerra cultural. Esse projeto não foi uma novidade cubana, mas sim o resultado de um trabalho realizado pelos Estados Unidos em muitas regiões da América Latina. Ele começou a ser implementado no processo de transição democrática na América Latina, no Chile e em muitos outros lugares. Essa experiência partiu da constatação de que as universidades latino-americanas tinham sido nas últimas décadas um foco de insurreição e de formação de militantes de esquerda. Eles decidiram mudar isso e converter a universidade latino-americana em um centro de produção do pensamento da direita e não da esquerda. Eles pensavam que o fato de essas universidades terem atravessado um período de repressão muito grande, quando muitos professores e estudantes militantes de esquerda foram mortos, facilitava um pouco esse trabalho de conversão.
"A ideia era criar uma nova classe dirigente dentro das universidades e, por consequência, nos seus respectivos países". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“A ideia era criar uma nova classe dirigente dentro das universidades e, por consequência, nos seus respectivos países”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Assim, começaram a implementar em toda a América Latina um milionário plano de integração acadêmica. Muitos estudantes e professores foram fazer esse intercâmbio nos Estados Unidos, onde realizaram diversos cursos, entre eles o famoso curso de liderança. A ideia era criar uma nova classe dirigente dentro das universidades e, por consequência, nos seus respectivos países. A quantidade de líderes mundiais hoje que são fruto desses programas é impressionante. Esse processo foi aplicado na Venezuela, por exemplo, com uma ênfase muito forte, a partir de 2009.
Entre 2003 e 2004 se enviava, mensalmente, um grupo de dez estudantes com um professor para cursos de formação e liderança na antiga Iugoslávia, atual Sérvia, sob a coordenação do antigo grupo de resistência sérvio, onde estava Srdja Popovic e uma série de jovens que contavam a experiência da derrubada de Milosevic.
Participavam desses cursos também o Instituto Albert Einstein, o Instituto de Luta pela Guerra Não Violenta, criado pelos sérvios, o multimilionário húngaro George Soros que colocou muito dinheiro neste projeto, e o Instituto Republicano Internacional que recebia fundos do governo norte-americano e o aplicavam nestes cursos. Aí se formaram muitos dos líderes da chamada Primavera Árabe e muitos líderes da oposição síria. Criou-se toda uma estrutura para fomentar o uso da chamada luta não violenta e do golpe suave. Estudantes venezuelanos, acompanhados de alguns professores, começaram a fazer esses cursos de forma periódica. O objetivo era repetir esse processo em Cuba, para formar ativistas especializados no manejo da guerra não violenta.
Eu recebi uma preparação intensa de como se organiza um golpe suave para derrubar um governo, quais são as medidas fundamentais para construir essa estratégia. É claro que, dentro de Cuba, seria muito mais difícil fazer essa formação. A alternativa encontrada foi usar o sistema de bolsas de estudo para promover o intercâmbio de estudantes. A ideia era propor, por exemplo, uma bolsa de estudos de seis meses ou mais em Jerusalém para um estudante de história ou ciências sociais. Ou então oferecer para uma jovem estudante de arte uma bolsa em Colônia, na Alemanha. Escolheu-se universidades muito pontuais, que não fossem norte-americanas e que pudessem ser atrativas para determinadas áreas de interesse. Mas os cursos oferecidos nestas universidades não eram exatamente sobre arte ou sobre história, mas sim sobre formação de lideranças, com cursos de inglês, cursos de táticas de guerra não convencional, sobre como funcionavam as organizações democráticas. O objetivo era que, mais tarde, esses estudantes se transformassem em elementos de mudança em Cuba.
Sul21E os estudantes que recebiam essas bolsas, sabiam da real natureza desse intercâmbio?
Raúl Capote: Não sabiam. O truque da bolsa era que, em geral, oferecia um curso de seis meses. As pessoas supunham que o curso era relacionado com a sua especialidade. Por que não passar seis meses em Jerusalém, Colônia ou outro local, com tudo pago, recebendo um curso de inglês, entre outras coisas? – pensavam. A agência estimava que, se cada dez estudantes, um se convertesse em um futuro opositor, já seria um grande lucro.
"A estratégia, em resumo, era aplicar a cartilha de Gene Sharp, teórico do golpe suave. A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda". (Foto: Divulgação)
“A estratégia, em resumo, era aplicar a cartilha de Gene Sharp, teórico do golpe suave. A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda”. (Foto: Divulgação)
Esse plano começou a ser implementado em Cuba com muita força a partir de 2005, 2006, sem muitos resultados. Para surpresa da CIA, não houve muitos interessados pelos cursos, que não tiveram o impacto esperado junto aos jovens cubanos. Além disso, eu é que estava dirigindo a operação…Era possível que não tivesse êxito…(risos). Outro plano envolvendo a minha atuação como agente era fazer com que eu ocupasse uma posição elevada dentro do Ministério da Educação. Pretendiam me dar todo o apoio possível para tanto, apoio acadêmico e inclusive monetário. A ideia era me converter em uma pessoa imprescindível no sistema de educação cubano por minhas relações e contatos no mundo acadêmico.
Uma das coisas mais importantes para eles nesta época era o tempo que lhes restava. Estavam muito preocupados com essa questão temporal, pois aguardavam o momento do desaparecimento de Fidel. Avaliavam que muitos dos líderes históricos da Revolução Cubana não estariam mais em condições de assumir o posto de comando quando isso acontecesse. Trabalhavam com um período de dez ou quinze anos, no qual se formaria em Cuba uma nova oposição, que não teria nada a ver com a oposição anterior, que eles próprios consideravam desprestigiada e sem base social. Queriam criar uma oposição de novo tipo.
Sul21: Como pretendiam fazer isso?
Raúl Capote: A estratégia utilizada em Cuba se diferenciou um pouco daquela usada em outros lugares. Eles queriam formar uma oposição de esquerda, pois avaliavam que uma oposição de direita não teria êxito em Cuba, pelo enraizamento da tradição e do pensamento revolucionário e também pelo fato que a direita nunca teve uma posição muito significativa junto ao povo cubano. Passaram a tentar criar, então, organizações que fossem supostamente de esquerda. Essa era a estratégia central do projeto Genesis. Para nos auxiliar nesta tarefa, nos deram acesso a modernos meios eletrônicos de comunicação que nos permitiram acessar a internet, as redes sociais e outros espaços. A ideia era nos dotar de uma grande capacidade de mobilização e começar a gerar conteúdo dentro do país. Isso tudo seria feito em segredo, em baixo perfil, nos treinando no uso dessas novas tecnologias.
"Em 2007, me entregaram um equipamento de comunicação que se conectava por satélite com o Departamento de Defesa e que não podia ser rastreado". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Em 2007, me entregaram um equipamento de comunicação que se conectava por satélite com o Departamento de Defesa e que não podia ser rastreado”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Em 2007, me entregaram um equipamento de comunicação que se conectava por satélite com o Departamento de Defesa e que não podia ser rastreado. Esse equipamento permitia que eu tivesse comunicação direta com meu chefe em Washington e também criar uma rede em Cuba indetectável. De forma concomitante com isso, se começou outro projeto por meio do qual começaram a introduzir telefones celulares no país. Em função do bloqueio imposto pelos Estados Unidos, Cuba não tinha muitos celulares. Eles começaram a distribuir celulares de maneira gratuita, por diferentes meios, e criaram o programa ZunZuneo, que pretendia ser uma espécie de twitter cubano.
Essa rede começou a distribuir mensagens de texto principalmente e notícias relacionadas ao esporte, à cultura e às artes. A ideia era criar dentro do país um hábito de consultar essa rede e fazer com que as pessoas confiassem nela. Assim, no momento necessário, ela começaria a enviar mensagens para mobilizar ações contra a revolução. Fizeram alguns testes no país, em determinados momentos, que não deram resultado, mas seguiram implementando o projeto. Mais tarde, fizeram alguns aperfeiçoamentos e criaram outro sistema que se chamou Piramideo, parecido com o ZunZuneo, mas com alguns acréscimos fruto de experiências no Oriente Médio, especialmente no Irã, onde foi utilizado como ferramenta de mobilização em determinadas situações dentro do país.
Sul21Qual foi o impacto dessas iniciativas na sociedade cubana, especialmente junto à juventude? Elas tiveram visibilidade?
Raúl Capote: Tudo era feito pensando em um determinado momento no futuro de Cuba onde deveria ocorrer uma mudança de governo. Eles pensavam que isso ocorreria entre 2015 e 2016, que é exatamente o momento que estamos vivendo agora. Neste momento, segundo o planejamento feito, já deveria estar formada uma oposição social de novo tipo, saída da universidade e integrada principalmente por estudantes e professores, mas também por artistas, pequenos comerciantes e representantes de outros setores que apoiassem essa ideia. O surgimento público desse novo movimento político se daria através do lançamento da organização Fundação Genesis para a Liberdade, que deveria se dar em um ano em que ocorressem eleições em Cuba (que ocorrem a cada cinco anos).
Essa organização até poderia ser considerada uma fundação, mas de “genesis” não tinha nada e de liberdade muito menos. Em primeiro lugar, porque o líder da organização, eu no caso, era um agente da CIA. Em segundo lugar, eu não podia tomar nenhuma decisão sem ouvir o grupo consultivo que era constituído por oficiais da CIA. Então, de liberdade não tinha nada. Por meio dessa fundação, se esperava criar um ou mais de um partido político supostamente de esquerda. O discurso desse novo partido consistiria em dizer que era preciso reformar e modernizar o socialismo cubano. A nossa principal palavra de ordem era esta: modernizar. “Precisamos colocar o socialismo à altura do tempo”, “a época heroica já passou”, “ninguém mais faz isso no mundo”…diríamos coisas assim.
"O nascimento da Fundação Genesis como organização seria acompanhado por uma grande campanha midiática". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“O nascimento da Fundação Genesis como organização seria acompanhado por uma grande campanha midiática”.
(Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Eles acreditavam que, com o desaparecimento de líderes históricos carismáticos da Revolução como Fidel, esse novo movimento político teria um grande impacto na sociedade cubana levando inclusive a uma fratura na unidade interna do país. O nascimento da Fundação Genesis como organização seria acompanhado por uma grande campanha midiática. Haveria uma coletiva de imprensa com alguns dos mais importantes meios de comunicação do mundo. O passo seguinte seria organizar ações de rua, manifestações, ocupação de espaços públicos de maneira pacífica com o objetivo de causar impacto na sociedade.
Sul21Qual era a meta principal dessa tática?
Raúl Capote: Em resumo, aplicar a cartilha de Gene Sharp, teórico do golpe suave. A ideia da guerra não violenta consiste em ir solapando os pilares de um governo até que ele imploda. O objetivo não é fazer com que um governo renuncie. Se isso acontecer, o projeto fracassou. A ideia é que o governo imploda e que isso cause caos. Com o país em caos, é possível recorrer a meios mais extremos. A meta em Cuba era esta: causar um caos tal no país que fizesse desabar todos os pilares da revolução. Neste cenário, várias possibilidades eram consideradas, entre elas, uma “intervenção humanitária” dos Estados Unidos no país. Outra era a instalação de um governo de transição que levasse a um governo de direita.
O truque fundamental do projeto Genesis era que tinha supostamente um discurso de esquerda, mas as propostas reais que defendia consistiam em privatizar praticamente tudo, inclusive a saúde e a seguridade social. Era um socialismo anti-socialista e anti-social, com terríveis medidas de austeridade. Eles diziam para não nos preocuparmos, pois o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a comunidade cubana no exterior iriam apoiar a “reconstrução do país”. Mas esse projeto nunca conseguiu ter base social nem conseguiu formar estudantes como pretendia…
Sul21E você, na condição de agente duplo, se esforçava na implantação do projeto ou trabalhava contra ele?
Raúl Capote: Fazia tudo o que podia para que não tivesse resultado. Era um jogo de xadrez muito interessante. Eu tinha que fazer com que eles acreditassem que estava funcionando e, na prática, fazer com que não funcionasse. Era bem difícil. Mas o projeto tinha muitos pontos débeis. Um deles era a crença de que a revolução dependia de uma única pessoa. Acreditar que a Revolução Cubana é Fidel é um erro. Outro erro era acreditar que os cubanos são pessoas ingênuas.
Em 2006, Fidel anunciou que estava se afastando de suas funções por problemas de saúde e que seria substituído por Raul (seu irmão, Raul Castro). Esse era um momento propício para aplicar a estratégia da Fundação Genesis e eles precipitaram um conjunto de ações. Acreditavam que poderia ocorrer um levante no centro de Havana.
Para tanto, usaram um médico chamado Darsi Ferrer, um contrarrevolucionário desconhecido. No dia 13 de agosto de 2006, data de aniversário de Fidel, ele deveria provocar um levante em Havana e convocar uma coletiva para dizer que o país estava mergulhado no caos, que havia militares sublevados e que a população não queria Raul no governo. Planejaram gravar em um estúdio, de modo muito parecido com o que fizeram na Líbia onde filmaram ações que, na verdade, não estavam acontecendo. O plano era filmar cenários de repressão como se os militares cubanos estivessem reprimindo a população, e transmitir essas imagens para todo o mundo. A mim me surpreendeu muito que um oficial da CIA em Cuba tivesse o poder de pautar e subordinar os mais importantes meios de comunicação do mundo. Era isso que estava se planejando ali.
"Quando essas imagens do “caos” em Cuba tivessem sido transmitidas ao mundo, eu deveria convocar uma coletiva de imprensa e pedir uma intervenção militar dos Estados Unidos para conter as violações de direitos humanos". (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
“Quando essas imagens do “caos” em Cuba tivessem sido transmitidas ao mundo, eu deveria convocar uma coletiva de imprensa e pedir uma intervenção militar dos Estados Unidos para conter as violações de direitos humanos”. (Foto: Guilherme Santos/Sul21)
Sul21E qual era o seu papel neste plano?
Raúl Capote: Quando essas imagens do “caos” em Cuba tivessem sido transmitidas ao mundo, eu deveria convocar uma coletiva de imprensa e pedir uma intervenção militar dos Estados Unidos para conter as violações de direitos humanos. Eu não era um contrarrevolucionário ou opositor, mas um professor e acadêmico conhecido no país. A credibilidade da minha aparição seria maior. Fiquei com um grande conflito interno neste período. Eu jamais iria fazer aquele pedido de intervenção militar dos Estados Unidos.
Sul21O que aconteceu, então?
Raúl Capote: As coisas começaram a dar errado para eles muito rapidamente. Depois do anúncio do afastamento de Fidel, passaram-se alguns dias e não houve nenhum caos no país, que seguiu funcionando normalmente. Não houve manifestações, protestos, nada. As pessoas seguiram com suas vidas. O outro problema que ocorreu é que o médico escolhido para desencadear o levante ficou sabendo que os principais canais de Miami estavam dizendo que um opositor cubano chamado Darsi Ferrer iria se imolar pela democracia. Aquilo foi uma surpresa total, pois não estava em seus planos colocar fogo no próprio corpo e morrer. Ele ficou convencido que iam matá-lo e, no dia 13 de agosto, ao invés de ir ao lugar escolhido para a execução do plano, sai de casa e inventa uma desculpa para não ir até lá. E o projeto fracassa.
Sul21Quando você abandona a condição de agente duplo?
Raúl Capote: Em 2010, quando a Líbia entrou em situação de guerra civil, o governo cubano me pediu para participar de uma denúncia pública para que as pessoas ficassem sabendo como esse tipo de golpe é tramado. Era uma decisão muito difícil, pois trazia riscos para mim e para minha família. Mas aceitei a proposta e começamos a gravar um conjunto de programas chamado “As razões de Cuba”, onde um grupo de agentes como eu vai à televisão contar o que tinham vivenciado. O programa foi dividido em capítulos. O meu foi ao ar em 4 de abril de 2011, onde contei tudo isso na televisão.
Sul21Fora de Cuba, se fala muito da situação de restrição de acesso à internet e às redes sociais na ilha, que haveria controle e a população não teria livre acesso à rede. Qual é mesmo a situação do acesso à internet em Cuba?
Raúl Capote: Sim, constantemente se acusa o governo cubano de não permitir o livre acesso à internet. É uma grande mentira. Se formos olhar os discursos de Fidel nos anos 90, veremos que a revolução cubana sempre defendeu o acesso livre à internet. O problema é que os donos da internet são os norte-americanos, Cuba está cercada de cabos submarinos de fibra ótica, mas não pode usá-los por causa do bloqueio. Cuba não tem acesso à tecnologia necessária para garantir o acesso à internet para todos os seus cidadãos por que as empresas são proibidas, pelos Estados Unidos, de negociar com Cuba. Em função desse quadro, o acesso à internet tornou-se muito caro para Cuba. E ela é lenta porque é preciso uma infraestrutura que garanta que o sinal chegue em todos os lugares do país. Nós acreditamos que a internet é uma ferramenta para defender e propagar a revolução. Os Estados Unidos não querem que Cuba tenha livre acesso à internet, porque sabem isso significaria que poderíamos divulgar muito mais nossas ideias também.
É impossível no mundo hoje que uma sociedade se desenvolva sem a internet. Nós temos a Universidade de Ciências Informáticas, que é uma das maiores da América Latina e forma todos os anos milhares de engenheiros criadores de softwares e técnicos nesta área. É uma universidade que se auto-financia com a venda desses softwares. Temos escolas técnicas em todas as províncias que formam milhares de jovens para o uso das redes sociais e das novas tecnologias. Apesar do alto custo que ainda representa, a acesso e uso da internet em Cuba tem aumentado enormemente, apesar de todos os bloqueios que ainda sofremos.
Fonte: Jornal Sul 21